Filho de Popó teve medo de ser expulso de casa e homossexualidade vazada: "Aquilo me assustou" 2p6r2e
Ao Terra, Juan Freitas fala sobre autodescoberta, medos, anseios e relação com o tetracampeão de boxe 1u6h53
Juan Freitas, médico e filho do tetracampeão de boxe Popó, revelou sua sexualidade ao pai na adolescência e, apesar de receios iniciais, construiu com ele uma relação de respeito, apoio e inspiração para outras famílias.
Juan Freitas, de 27 anos, diz ter se descoberto homossexual na pré-adolescência, mas sempre teve receio de revelar sua orientação sexual ao pai, o tetracampeão mundial de boxe Acelino Popó Freitas, de 49. O medo era de ser expulso de casa, como tantos outros. E o tormento do agora médico chegou ao fim quando ele tinha 15 anos. Na época, se entendia como um homem gay, mas não estava pronto para contar. Porém, a informação vazou. 5j6b1k
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“Mesmo que eu nunca tenha visto nenhum tipo de homofobia dentro de casa, sabia que ser gay naquele mundo não era bem visto. Então, eu ficava com receio de contar e acabar sendo expulso de casa. Eu tinha receio do que poderia acontecer. Receio do fato de eu gostar de homens fizesse meus pais me abandonarem”, conta Juan, em entrevista exclusiva ao Terra.
Embora já existissem pessoas LGBTQIA+ na família, ele temia como seria a receptividade dos pais em meio a um "ambiente com a masculinidade muito aflorada", como o boxe. "Aquilo me assustou de início. Pra mim, sentir algo por um homem era uma ofensa para aquele mundinho, sabe?”, pontua o médico, que lembra não ter tido a oportunidade de assumir.
"Na verdade, foi o contrário. O meu pai ligou para mim para perguntar se eu era [gay], porque contaram a ele. Inicialmente, eu não me assumi como gay, porque eu queria amenizar a situação. Falei que era bissexual, mas ele conversou comigo e foi muito acolhedor naquele momento. E foi aí que tudo mudou. Mudou no sentido de não precisar mais me esconder na frente de ninguém, principalmente dele. De conseguir ser eu mesmo dentro de casa. Imagina você não poder ser você mesmo na sua casa? Meu pai tirou o peso que estava nas minhas costas há muito tempo.”
Mesmo com as questões do ambiente masculinizado, Juan só guarda boas lembranças da infância. Filho de pais separados, ele ava períodos com a mãe e outros com o pai. Ao falar de momentos com o boxeador, ele cita atividades em grupo, risadas e viagens. Entretanto, a intimidade e amizade dos dois só foram verdadeiramente estreitadas após o pai confrontar a sexualidade do filho por telefone.
"Eu lembro que ele perguntou se eu estava bem, disse que me amaria de qualquer jeito e que iria me buscar na próxima semana para sairmos. Desde então, a nossa relação só melhorou. A gente começou a ter uma intimidade maior. Eu falo dos caras que eu fico para ele. Já apresentei alguns namorados meus, alguns ex-namorados já dormiram em minha casa. Ele sempre os tratou como filhos. Mas teve a evolução do meu pai."
Apesar de ter acolhido o filho, isso não significa que Popó não teve desafios no processo de aceitação. Segundo Juan, o boxeador ou por uma jornada própria de desconstrução, com altos e baixos. Entretanto, com muita conversa, os dois conseguiam colocar a relação nos trilhos.
“Nem sempre o processo de aceitação foi linear. Teve momentos em que ele questionava algumas coisas. Teve momentos em que ele falava algumas besteiras, mas eu sempre tive paciência para entender o lado dele. E ele sempre teve paciência para entender o meu lado, para respeitar o meu lado. E aí a gente foi se encaixando, e eu fui ajudando ele a entender e respeitar alguns processos que são meus, que são da minha vida. E, hoje, ele super me respeita. Hoje, ele sabe o profissional que eu sou. Ele sabe a pessoa que eu sou e que a minha sexualidade não intervém em nada disso. Minha mãe também foi similar a ele — no início, teve um pouco de resistência, mas depois foi se abrindo para minha situação.”
Juan acredita que seu pai aceitou de vez sua sexualidade quando ele teve seu primeiro término de relacionamento. Ele relembra o momento com bastante carinho. “A primeira vez que eu tive o coração partido por um homem, ele foi super acolhedor comigo. Me pegou na casa da pessoa, me trouxe de volta, me deu colo, conselhos. E acho que, naquele momento, eu vi o quanto meu pai era apoiador e, independente da minha orientação sexual, me amaria. Aquilo foi bastante marcante.”
Criado no universo do boxe, Juan até pratica o esporte vez ou outra, mas de forma recreativa, diferentemente de seu pai e de seus irmãos, que treinam para alta performance. Filho de um tetracampeão mundial, ele ainda recebe pressão por uma carreira na modalidade.
“Do meu pai nunca teve isso. Ele sempre deixou a gente muito à vontade para seguir o que a gente quisesse. A coisa que ele mais cobrava era fazer faculdade. Ele falava: ‘Estude, faça entrevista em escola, faça uma faculdade, termine, seja independente e feliz’. Era uma coisa que ele cobrava da gente. Mas pressão para eu estar no esporte, não [...] Mas sempre me perguntam isso quando digo de quem sou filho. Então, eu digo que não luto. Mas é comum, todos os meus irmãos lutam — eles quiseram seguir esse caminho.”
Focado em prosperar, hoje Juan Freitas está solteiro e trabalha com medicina esportiva e hormonal no Núcleo GA. Em meio a isso, pretende alavancar sua presença nas redes sociais e tornar seu trabalho e sua história uma inspiração para outros. “Recebo mensagens no direct, sobre o meu trabalho e de pais que se inspiraram em meu pai para aceitarem os filhos. Então, eu gostaria muito de ajudar mais nesse campo.”
